quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Razão

(concebido em 2 de Abril de 2010)

Perdido.
Danos dos longos dias reaprendendo, vivendo no refletir da noção. Saboreio a dor da razão. É o que fustiga minha redenção.
Nos temperos das gentes me incomodo, no meio do mau tempo no olhar que sofre quando vê o mendigo mijado pelo trago burguês.
O nosso povo nada fez outra vez. Como não fez quando a História chamou pra luta e a apatia foi construída em silêncio e com sorrisos afrontosos no Jornal Nacional.
Eu sou mais um que sonha.
Como disse, perdido.
Digo das madrugadas em que um amigo não tinha pra compartihar o que as horas arrefeciam e me culpava no gélido da memória cobrada pelo que não assinei na bandeira verde-amarela.
Saído de um mar caudaloso.
Sal queimando os lábios calando o que o peito gritava.
Netuno com seu garfo espetando pés e têmporas do meu olhar para a água boa.
O peito enfrentando Deus, as mãos unidas numa roda com a humanidade caminhante sorrindo.
O tempo despercebido é o que mais dói.
Cada dia um mesmo pedido pelos fracos, perdedores, covardes e excluídos: a fé retomada por seus meios mais profundos.
O lixo posto às 18 horas no latão do condomínio não dando chance pro mendigo, pra prostituta grávida, pro crackeiro, pro louco fedidos.
À beira do Arroio Dilúvio uns e outros descem e sobem da encosta fria de laje com seus farrapos e fumaças engolidas no lugar da comida.
AIDS é riso de escárnio pela vida não servida de bandeja nas primeiras surras e estupros dentro de casa até a fuga.
Então, a liberdade; então, a perdição pelas ruas metropolitanas; então; a cadeia pelo crime famélico; então, mais surras na prisão, depois mais crueza no resgate do sol inteiro ao acordar da noite sob o teto de todos: as velhas parcerias acostumadas e rindo daquilo que conhecem bem, seus trejeitos e malandragens, o sexo no viaduto, os filhos sobre a carroça caçando papelão, cozinhando papelão no inverno, o sangue escorrendo do nariz na hora de pedir um prato de comida - deslizes - o sol queimando os cabelos brancos, os filhos no caminho do mesmo sol, da mesma desgraça que lhes sorria na infância, um surto de tuberculose no inverno e o fim, um drama para uma melhor...
"Eu não sei de nada, político não presta, não sei em quem votei nem quando foi a última eleição, Brasília é uma festa e eu queria ser deputado federal, marajá. Vou pra praia no fim de semana pegar onda e fumar unzinho, carro do ano e "hang loose" pra peituda na beira do mar."
É isso o que restou da ditadura: o vazio e o individualismo de mãos dadas atravessando oceanos pela internet, globalizando para os ricos.
Mas a América Latina tem um novo líder. Ele vem de um povo nordestino árido e sofrido, de um sangue brasileiro que ri e enfrenta monopólios, multinacionais, velhas formas de agredir e de pensar, que se opõe a guerras absurdas.
Quando ele discursava nos comícios de 1989 eu chorava de poesia, acreditava, ao olhar pra trás, já com a bandeira do Partido em punho e ver aquele mar arrepiando, tremendo de alma, coragem e orgulho, que o operário seria o nosso grande líder.
A maioria se colloriu e logo o país desbotou-se em vergonha e lágrimas.
Mas estávamos certos, a História provaria.
Todos nós sob nós laçados pelos rumos que, ao mesmo tempo a falta, o amargo, o desamor e o desespero nos dariam.
A complexidade, o paradoxo rimando pobreza com beleza: epidemia de crack e pão mais barato nas esquinas.
Uma eleição a vista sob a ética de Lula: uma Mulher com nome Ordem e Progresso no olhar.
O povo e eu confiando.
Creio que o povo está comigo.
Estou no meio, não na onda.
Perdido por dentro, mas me fortalecendo pra luta vindoura na razão e na responsabilidade pelo amor universal, então, o verdadeiro Amor, a mulher e os filhos depois e durante o trabalho.
O sonho e a conquista.
A queda de medos.
O respirar na felicidade.
A percepção do simples.
Não tive culpas: fim porque corajoso.
Eu mesmo eu, melhor.
O coração e o país.
As veias e o povo.
Caço sem medo: conquista de um latejar.
Trabalho glorioso: tempo compartilhado.
Sob o signo da Arte e do Social.
Penso e sinto.
Enfrento-me e venço porque me creio como sempre me cri!
Deus por aqui votando na bandeira do nosso país: minha rua percorrida pelos pés da Construção.
Paz para dar as mãos.
"Gigante pela própria natureza."
O Amor nessa Nação do meu Coração.

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