sexta-feira, 31 de julho de 2009

O muro caiu?

... e então o muro foi erguido pela Ignorância, partindo o pequeno espaço divido entre a Maldade e a Ingenuidade que há anos necessitavam uma da outra para sobreviverem.
Tendo como regra a harmonia cruel que sorri somente com os olhos sarcásticos, a Maldade entornava sua calda quente sobre a Ingenuidade para imobilizá-la.
Esta, por sua vez, tentava persuadir a necessária inimiga dando-lhe flores sem perceber os espinhos tensos que sangrariam sua companheira de cinismos.
Uma em cada lado do muro, subdividindo-se à dureza do divisor com corridas feito lâminas que findava ao chocarem-se contra a imponente parede, que de maneira alguma sentia. O muro nunca sentia, só dividia. Elas, sangravam.
As duas choravam encostadas no muro, querendo uma a pele da outra, implorando a ele (porque era o único santo, deus, diabo, a forma mais próxima de um reinado extinto chamado Humanidade) piedade, por serem os sentimentos mais intrínsecos a tal civilização.
A Maldade e a Ingenuidade conseguiram, depois de muito esforço, quebrar o muro e tocarem-se entre as ruínas do ditador de tijolos que sorria ao ver que do contato entre elas nascia a Ignorância, Princesa da Humanidade.

O Encontro

Ela passava e seu desejo de entrega era uma confissão.
Ela olhava ao redor de si mesma, do mais próximo alvo acolhido por seus olhos tristes, mas esperançosos, ao melhor forjado encontro com seu cavalheiro, do outro lado da rua, mas pudica, desviava.
Queria deixar ser tocada por ele, tão oco que chegava ao ponto de deixar disparar seu coração e não entender as palpitações em seu peito.
Enamorados, sim. Mas sem o saberem.
Assim passavam as 19 horas de todos os dias inteiros de saudade pelo próximo olhar, antiga dor contada nos dedos, nos passos que diminuíam o ritmo para ter mais tempo de tentativa para conquistá-lo, coisa que já tinha feito sem que soubesse.
Ele, pela falta de astúcia, a denominava ausente quando em seu quarto escrevia em seu diário já cheio de referências a ela.
Certo dia ela abandonou seu medo e foi pelo ouro lado da rua. Ele não passou. Surpresa e envergonhada, foi para casa com passos apurados.
Nos dias seguintes, tomou coragem e fez o mesmo. Novamente ele não veio. Sabia seu nome - Pedro - e teve horror ao imaginar que houvera saído da cidade. Logo descobriria que ele estava muito doente e não conseguiu segurar-se, pois já fazia muits semanas que aquela rua ficara vazia para ela. Não aguentou e foi visitá-lo. Seu estado era gravíssimo, mas nenhum médico diagnosticava a doença.
Sentou-se na cadeira mais próxima a cabeceira da cama e ele, sussurrando, pediu que se aproximasse de sua boca e, então, disse: "eu estou morrendo de amor! Por que não vieste antes? E por que não consegui chegar perto de ti tão graciosa?"
Ela encostou os lábios com força à sua têmpora e agarrou sua mão fria e sua para dizer: "agora me encontro a ti! Posso ser para ti o que sempre desejaste! Reanima-te Reanima-te!" Sussurrando, ele respondeu: "estou sem forças. sem forças para mais amar. Foram meses de ausência tua, a qual nunca encontrei realmente! Deixai-me por ser lerda! Deixai-me por ser eu um covarde!"
Ela o abraçou sem perceber que o sufocava, tamanho o sentimento. Ele tentou buscar seu fôlego torpe mais uma vez, em vão.... morrera.
Ela o abraçou com ainda mais força e chorou compulsivamente, ali ficando a embalar o corpo em seu colo um tempo sem fim.