quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Não louco

Penduradas por seguros cordões
as que cheiram
o novo entre teus seios.
A maciez que vejo protegeres
o que de mim iniciou e em ti chegou
porque juntos,
e cultivamos para
dar-se ao mundo.
Nua.
Vejo-as dormirem.
Cubro suas costas minúsculas
como afagas minha mente
quando estou louco.
Tuas mãos repousam
longitudinais
e retornam à proteção.
Teu farto leite verte.
Nada é tarde para nós,
mesmo quando anoitece.
Sua presença
é límpida no respirar de anjo
nascido de humano.
Agora deves já saber
que és a mulher
mais linda do mundo.
... És sonho...
... É pureza...
É encanto para o meu olhar.
Encaixo-me quando deito
e esquento-nos outra vez.
Acordo e respiro
profundo.
Depois, sonho...

Amigo

Eu acordei sem amigos num final
de tarde de verão.
O sonho era com um grande amigo
que eu deixei o tempo levar.
Ele estava me procurando e
reclamando
minha ausência
na sua vida já tão adulta.
O que eu tinha
além de livros
vendidos
para pagar a independência sonhada?
Eu procurei na agenda
e vi muitos nomes
que nunca dizem
"alô".
O que faltava na minha vida era trabalho
e, a partir daí,
novas fontes
de conhecimento,
conversas sobre coisas afins,
boas piadas.
Eu lembrava desses
bate-papos em esquinas
sobre dores da alma e do coração.
Nalgumas paredes, socos e a quietude da raiva.
Nada além da observação
da necessária destruição momentânea
para enfrentar a vida.
As noites embriagadas
sobre os ventos doidos que engolíamos
com nossos cigarros
sem fim
queimando
o que logo
não teríamos mais: voz.
A música pulsante
fortalecendo a amizade iniciada na adolescência,
solidificada quando deveríamos crescer,
afastada não sei por quê...
por mim.
Memória de noites falidas.
Dias começando frente ao sol da solidão.
Sonhos, filosofias e amores:
as mulheres que a amizade trazia
por nossas vias de irmãos de alma.
Sob o detrimento
que o tempo e as coisas anunciam,
o álcool efervescente
quase nos matando
e nos afastando pelo trabalho-diversão-vadiagem.
Na voz e no percurso,
uma saudade
e uma entre tantas
dores
num final de tarde...

Química

Eu sou uma experiência que nunca dá certo.
Cubro minha cara faminta
para descansar
essa sonolência
ao meio-dia ainda.
Pés e joelhos sobre as flores
mortas
e úmidas do outono
procurando caminhos
que me elevem e façam
objetivar a minha
química.
Eu a tomo
e minha
mente acalma e
o corpo embota.
Eu não a tomo
e o descontrole
e o grito
sobre as montanhas.
Eu a tomo e não a tomo
e tenho de
conter-me sem ela
e com ela.