segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Foto de Arte número 5

Aquele desenho é uma poesia
evocada por uma canção
que ainda serei.
A flor do perfume
que as pernas tremem
no sonho
em que
meu espírito visita tua solidão.
Oh! O pelo na genitália,
minha barba e união!
Ventre anil
inalcançado pela foice da sombra
ainda oculta
em apontamento por aquele que denigre.
Vento frio da rosada face
na mão dos desejos:
solitária no Espaço
e
estendida no Tempo.
Cabelos de fumaça
desenraizados da baía
em que tua praia
sonha,
permite,
desencurva-te da postura fetal
para o abraço do mar,
um mergulho no sol abrasando
a velocidade inatingível de teu corpo
na corrida sobre a areia
até o mergulho na tua Alma,
onde encontras minha Poesia:
teu encanto rascunhado,
teu tesouro recuperado,
teu,
sempre teu louco
encurralado
rindo de tanto chorar
o que
nenhum Amor
- nem O Nosso -
irá explicar:
a Natureza do Aprochegar...

Memória

O todo é um vazio onde flutuamos.
Nossa fome é uma angústia permanente
no olhar do
prato vazio
da cólera.
Não estamos nem aí para o amor
porque cansamos de amar demais,
mas é esse éter insosso que respiramos.
As camas estão pela metade.
As ruas foram incendiadas
pelo fel nas veias dos desvalidos.
Há nações inteiras à espera
da humanidade que costumávamos cultivar e,
mesmo assim,
um beijo é recebido
- sempre -
por espinhos de flores frágeis
que só choram escondidas do sol.
Há embarcações sobre
oceanos em chamas
dizimando
a fauna dos corações
mais inocentes e frágeis.
E ninguém consegue parar o caos que é essa fuga.
Para onde ir, afinal?
Aquelas crianças
que sonhavam dentro de nós
até uns anos atrás:
onde foram parar?
E a sensação é tão inversa,
que quando nos deitamos
em nossas camas
repletas de
coisas
no lugar de nossas mulheres
que o amor levou
por isso ou por aquilo,
encolhemo-nos como fetos apavorados,
prisioneiros num mundo de água
chamado Terra,
onde todos respiram e
correm insanamente
por hectares
de
vazios
preenchidos por
nadas
em incessantes tempos
inacabados.
Por que é tão difícil entender o que está acontecendo?
Há hospícios inteiros
perambulando pelas grandes cidades
gradeadas
dentro de nossas cabeças.
Há presídios superlotados de ideias
que para nada servem,
a não ser para enlouquecer.
Na solidão dos corpos
há uma grande
manobra ou catapulta,
algo que invade ou conquista
o que nossas mentes e corações
- muitas vezes rivais -
desejam.
Mas sempre haverá algum perfume
na memória daqueles
que um dia amaram...
Por que vagamos desse jeito?
As piores guerras vencemos em silêncio
e no aprendizado daquilo
que há ao nosso redor.
O que é sonho?
Qual o pesadelo da realidade amanhã?
O estado de todas as coisas
que dóem
é o que faz a gente se recuperar.
O que temos de fazer
para não enlouquecermos
de vez?
O que temos de fazer
quando ouvimos
a voz da Solidão?
Há um alívio momentâneo em cada queda.
Em seguida, há uma paz impermanente em todo cume.
Há avisos fúnebres
nos olhos abandonados de alguns irmãos
que não admitiram seu potencial.
Alcance agora.
Basta ir com calma.

domingo, 26 de dezembro de 2010

8:32, 8:48, 9:11 - boa noite, dia...

8:32.
A tensão começa outra vez.
A cidade está atenta aos seus,
mas não quer nem saber.
O mercado público já abriu suas portas
e os bêbados de ontem são chamados
pelos nomes nos botecos
que dão pra rua,
onde os trabalhadores passam
apressados,
pensando,
carregados.
Portas rangem nos bairros pequeno burgueses como o meu
quando entra alguém pra trabalhar.
Alguém pra trabalhar rangeu portas para
sair de sua casa,
comprada a muito custo
- mais do que o do meu apartamento -
e deixar um filho
alimentado
para a escola pública.
As escolas voltaram-se para o povo outra vez.
Até eu gostaria de estudar agora!
Temos música no currículo!
Não peguei exército também,
na época eu era considerado epiléptico.
Puseram-me, depois de olhar meus exames,
num canto daquele baita lugar
com uma bicha e um cego: pronto!
Era só esperar,
jurar a bandeira
e ir à merda com tudo.
8:48.
Miles Davis Dá tudo de si,
samba em seu jazz.
A porta range outra vez
como a janela do vizinho que foi para o dia.
Mais automóveis
levam e trazem
sonhos,
crueldades,
oscilações,
modorras,
risos,
histerias e
solidões...
e um pouco de escárnio quanto
à própria preguiça:
riem disso tudo com desdém heróico.
Minha chance de trepar
hoje
acabou logo cedo
me acordando ao telefone.
A poesia de Miles Davis e um remédio me põem poeta.
Não entorpeço,
apenas me regulo como nunca.
Àquela época eu era uma caverna pronta
para vomitar um diabo embriagado
e ferido de vazio
e empatia pelo mundo.
Cá estou voltado para a martelada do operário
construindo a casa que,
um dia,
com meu sustento e trabalho,
vou alcançar-lhe uma xícara de café
e pão
para um descanso
enquanto labuta
na casa onde terei uma família.
É assim que o mundo funciona:
a mão estendida primeiramente hoje,
é aquela que percebe outra amanhã.
Ou é assim que deveria funcionar...
Conheço gente que não sabe
o valor da honestidade.
Há uns que põem fora
toda ajuda e força
que lhes deram
só por um punhado de momento...
E há os que mentem
para alcançarem a ilusão
de um prazer extremo e efêmero.
9:11.
É.
Realmente a noite se foi há horas.
A cidade retoma a cidade.
O meu dia terminou
antes do poema.
Sem sexo: ela está doente.
Apenas a ilusão de perceber e sorrir...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Uma pitada de sal no prato da noite

Me vi criança outra vez.
Corria pelado pela casa cheia
de balões
e de
familiares.
Eu estava feliz
e a confusão havia se desfeito
com uma aceitação que não fazia de mim
outro que não
eu mesmo.
Era tranquila a minha risada
e o dia
raiava
em cada passo.
Todos aplaudiam.
Eu estava no seio do Amor.
Fantasmas - sentia - superava,
e via,
da minha mente infantil,
uma mulher e uma família
que eu cuidaria
e transbordaria muito Amor.
Deus havia me posto na panela
e mexido e misturado
à humanidade outra vez.


Entre afagos estelares

Quando esse torpor e agonia acabarão?
Peço a Deus em toda reza.
Suplico a Ele a virtude minha
e não a besta
que se alojou no meu crânio:
sinto o cheiro dela
colado à minha pele,
mas não fiquei como o desejo que pedia.
Minha mente gira
e eu não consigo ter paz!
O que eu fiz, afinal, Deus?
Meus pecados foram tão terríveis
que no Amor
que tive a Beleza,
Nele mesmo tudo se findou?
Mas sei que Amor se conquista
e dentro de mim há!
Preciso da calma de um céu anil
como um novo planeta,
como uma lua compartilhada
daqui de baixo
entre afagos estelares.
O que me atormenta
não me confundirá amanhã!
Deus me perdeu?
Tenho o gosto dos seios durinhos
dela
em minha carnívora
boca.
Ela se contorceu em cachoeira vertente.
Eu queria estar dentro dela!!!!!
O que há, química?
Me deixaste ao engolir meu sangue?
Te engulo para acabar então,
ou espero os dias como um jovem?
Não leiam aqui "o coitado",
é apenas
uma ferida a mais.
No entanto,
outras tantas doçuras...
Quero descansar em paz
antes da morte,
querida.
Sem.
Nada mais que nada.
Sono de morte.

As mãos dos que são sãos

Toda vez que tenho medo,
ao invés de encarar uma tolice
dentro da canção,
perco minha voz do coração.
Toda vez que tenho medo
antes de atropelar o que deturpa
o que é canção,
o éter revolve uma agonia que,
quando não cego,
supero.
A cegueira é a entrega do meu medo
pela minha mão,
pois quando assopro da mão
com a força do coração
o medo,
ele se vai
como pó
e eu me sinto em mim.
A humanidade que tenho
é mais forte do que o medo
e minha força é mais poderosa
do que a entrega,
a desistência de mim mesmo
para um algo
nada
que nem fé tem.
Toda vez que recolho
minha mão
do meu coração
por coisas que em minha mente
vêm e vão,
o fracasso me acompanha.
Mas não desisto de mim
e dos sonhos que tenho porque
esses sim são sãos
e não solidão.
Toda vez que deixo-me de mim
por não sorrir o Amor
pra ela
e pra composição,
o monstro vem.
Mas sábio eu que sou,
e mais respeitador do coração
que de minha cuca,
sobre a beleza e a essência canto e encanto,
e a natureza não se esvai,
porque é mais forte
do que
uma mente de reclamação.

Num Natal de uma outra vida

A sensação de lembrar dela
é mais leve e mais saudável,
não precisa da dor para ser uma poesia.
Nessa noite de Natal,
com as pessoas realmente importantes
como os doentes e a família,
os sangues e as lágrimas do Amor.
Uma canção longe da solidão imposta
por minha impossibilidade
até esse amor já findado...
Eu voando por outras ondas.
Na vibração dos ventos, colorindo pipas.
Do que tornei razão
e fui incoerente
- ao pecar -
caí na tolice abusiva de
tamanha boçal?
E o meu desejo refreado
para depois
será conduzido por ela:
brilhantes olhos que espero ainda meus.
O dom da calma é o que
peço a Deus.

MILÊNIOS

"Apática selvageria"

Eu era gigante. A mata, tão densa, que eu nem conseguia ver o céu. Estava inerte, contemplava não sei o que sob a floresta.
Tinha um tacape na mão direita e o ar parecia deixar tudo mais pesado.
Escurecia em silêncio e a umidade acentuava-se desde quando eu, ali, havia permanecido.
As dores de meus joelhos nem importavam. Eu contemplava todos os troncos e suas frondosas copas, as plantas ao redor da magnificência de uma fauna que, subitamente, sumira - e esse era o meu espanto. Os animais que a mim pertenciam sem o que de mim tirassem, porque eu era mais forte e de tamanho descomunal, sequer ouvia-os...



"O leprosário do humanista"

Eu não sentia medo. Sabia que estar lá com os joelhos corroídos naquela cabana do leprosário com minha família, era o que eu podia fazer: cuidar-nos depois de atravessar selvas e chegar até o deserto onde elas me esperavam sedentas, chorando a saudade que a doença tem o poder de, mastigando-nos, laboriar na memória o que a paz acalenta o coração...
Eu dava-lhes água e pão e cuidava para que os açoites pegassem apenas em mim. Claro que não conseguia livrar-lhes de todos, mas eu era obviamente o mais forte, suportava mais. Depois, exatamente por esse comportamento, os tiranos agarraram-me pelo pescoço com um cabo no qual havia uma espécie de forca feita de corda na ponta, e mesmo que eu falasse da Palavra, como um irmão a outro, o sangue corria, e eles arrastavam-me para o brilho de um sol inclemente. Apenas quando desmaiado, devolviam-me ao casebre imundo onde água eu implorava depois de acordar com a boca e todo o resto ainda tomado de areia, embora elas tentassem tirar a imundície do sangue, do suor e da terra de mim cuidadosamente e derramando suas lágrimas.
Essa havia sido a terceira surra. Por algum motivo indecifrável, depois, jogavam pão e punham água à porta.
Escureceu e as dores eram terríveis. Pão já não havia e nossos lábios, após aquele sol terrível do deserto, eram mais áridos do que o céu azul e assassino que, por sua vez, era mais cruel do que os próprios guardas. Mas a noite vinha também das alturas e, a tempestade, do chão que nos sustentava, logo nos engoliria...



"Até essa morte..."

Eu quase expulso daquela hermética bomba d'água. Tudo úmido e de repente eu tinha o nariz sentindo o ar, mas o resto de meu corpo não conseguia sair. Um cordão que antes servia para me alimentar, sufocava-me, e eu não entendia isso.
Então, o ar que me gelava faltou quando o cordão, hirto, do qual tentava livrar meu pescoço, foi pego por minha mão num instinto já falho...
Desmaiei quando voava num corredor branco. Uma gritaria e a secura do ar de dezembro me afligindo como se um ser tomasse meu corpo para qualquer coisa que não fosse eu.
A inconsciência era o meu estado. Aparelhos acudiam minha vida. Meu peito era dor. Qualquer coisa que houvesse ao redor de mim causava-me um tremor súbito em meus pequenos olhos para esse mundo me recebendo roxo - tal a quantidade de fezes inspiradas até meus pulmões - mas a cegueira pesava fundo até o meio de meu imaturo crânio.

Desejo de Natal

Que vontade desses beijos
por toda minha pele
de minha artista favorita...
Que vontade de minha nudez pra tela nua...
Que vontade de que o suor de cada melodia
dos sorrisos em frente a essas telas nos liguem,
num segundo,
à pele do tempo e do espaço
e o Natal
nos seja
a Grande Presença Vindoura!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cidade

Uma cidade submersa no céu.
Sem limites.
O monóxido de carbono entranhado.
É recém terça-feira em Porto Alegre
e a cidade é varrida
lentamente
por automóveis ocupados
apenas por um indivíduo...
Os seios que sonho enquanto
o ônibus trava
e faz a curva,
são livres e belos,
não têm dono.
Eu sou um cara urbano
indo
para as entranhas do meu apartamento.
Num lampejo,
percebo
que estou feliz
e o não entregar-me foi o motivo desse espírito vanguardista.
Tenho de lembrar
que sobrevivem aqueles que têm como norte
a vida
e não a insanidade da culpa
ou a amargura do medo.
Caminho prestando atenção nos meus passos.
Acerto-os um a um por isso.
Há vãos embriagados de dor, é claro.
Mas sem iludir-me,
na solidez dos dias
vou passando
e deixando meu brasão e minha história
para quem quiser
ver,
ler
e
ouvir.

Razão

(concebido em 2 de Abril de 2010)

Perdido.
Danos dos longos dias reaprendendo, vivendo no refletir da noção. Saboreio a dor da razão. É o que fustiga minha redenção.
Nos temperos das gentes me incomodo, no meio do mau tempo no olhar que sofre quando vê o mendigo mijado pelo trago burguês.
O nosso povo nada fez outra vez. Como não fez quando a História chamou pra luta e a apatia foi construída em silêncio e com sorrisos afrontosos no Jornal Nacional.
Eu sou mais um que sonha.
Como disse, perdido.
Digo das madrugadas em que um amigo não tinha pra compartihar o que as horas arrefeciam e me culpava no gélido da memória cobrada pelo que não assinei na bandeira verde-amarela.
Saído de um mar caudaloso.
Sal queimando os lábios calando o que o peito gritava.
Netuno com seu garfo espetando pés e têmporas do meu olhar para a água boa.
O peito enfrentando Deus, as mãos unidas numa roda com a humanidade caminhante sorrindo.
O tempo despercebido é o que mais dói.
Cada dia um mesmo pedido pelos fracos, perdedores, covardes e excluídos: a fé retomada por seus meios mais profundos.
O lixo posto às 18 horas no latão do condomínio não dando chance pro mendigo, pra prostituta grávida, pro crackeiro, pro louco fedidos.
À beira do Arroio Dilúvio uns e outros descem e sobem da encosta fria de laje com seus farrapos e fumaças engolidas no lugar da comida.
AIDS é riso de escárnio pela vida não servida de bandeja nas primeiras surras e estupros dentro de casa até a fuga.
Então, a liberdade; então, a perdição pelas ruas metropolitanas; então; a cadeia pelo crime famélico; então, mais surras na prisão, depois mais crueza no resgate do sol inteiro ao acordar da noite sob o teto de todos: as velhas parcerias acostumadas e rindo daquilo que conhecem bem, seus trejeitos e malandragens, o sexo no viaduto, os filhos sobre a carroça caçando papelão, cozinhando papelão no inverno, o sangue escorrendo do nariz na hora de pedir um prato de comida - deslizes - o sol queimando os cabelos brancos, os filhos no caminho do mesmo sol, da mesma desgraça que lhes sorria na infância, um surto de tuberculose no inverno e o fim, um drama para uma melhor...
"Eu não sei de nada, político não presta, não sei em quem votei nem quando foi a última eleição, Brasília é uma festa e eu queria ser deputado federal, marajá. Vou pra praia no fim de semana pegar onda e fumar unzinho, carro do ano e "hang loose" pra peituda na beira do mar."
É isso o que restou da ditadura: o vazio e o individualismo de mãos dadas atravessando oceanos pela internet, globalizando para os ricos.
Mas a América Latina tem um novo líder. Ele vem de um povo nordestino árido e sofrido, de um sangue brasileiro que ri e enfrenta monopólios, multinacionais, velhas formas de agredir e de pensar, que se opõe a guerras absurdas.
Quando ele discursava nos comícios de 1989 eu chorava de poesia, acreditava, ao olhar pra trás, já com a bandeira do Partido em punho e ver aquele mar arrepiando, tremendo de alma, coragem e orgulho, que o operário seria o nosso grande líder.
A maioria se colloriu e logo o país desbotou-se em vergonha e lágrimas.
Mas estávamos certos, a História provaria.
Todos nós sob nós laçados pelos rumos que, ao mesmo tempo a falta, o amargo, o desamor e o desespero nos dariam.
A complexidade, o paradoxo rimando pobreza com beleza: epidemia de crack e pão mais barato nas esquinas.
Uma eleição a vista sob a ética de Lula: uma Mulher com nome Ordem e Progresso no olhar.
O povo e eu confiando.
Creio que o povo está comigo.
Estou no meio, não na onda.
Perdido por dentro, mas me fortalecendo pra luta vindoura na razão e na responsabilidade pelo amor universal, então, o verdadeiro Amor, a mulher e os filhos depois e durante o trabalho.
O sonho e a conquista.
A queda de medos.
O respirar na felicidade.
A percepção do simples.
Não tive culpas: fim porque corajoso.
Eu mesmo eu, melhor.
O coração e o país.
As veias e o povo.
Caço sem medo: conquista de um latejar.
Trabalho glorioso: tempo compartilhado.
Sob o signo da Arte e do Social.
Penso e sinto.
Enfrento-me e venço porque me creio como sempre me cri!
Deus por aqui votando na bandeira do nosso país: minha rua percorrida pelos pés da Construção.
Paz para dar as mãos.
"Gigante pela própria natureza."
O Amor nessa Nação do meu Coração.

Ode à luxúria

Das vezes que te traí,
acabei com um pouco do meu Amor.
Das vezes que implorei por ti
e nada obtive senão silêncio e desdém,
ficou a marca de tuas mãos
espalmadas
contra meu peito.
Das vezes que me senti doente,
ficou uma busca pela fé
na qual ainda te vejo sob mesma ótica e sem mágoas,
no entanto,
o tempo...
Das vezes que te pareci
sombra e verme
daquilo
que cuspias sobre minhas
impotencialidades objetivas e racionais,
ficou a Ode à Luxúria
no meu corpo
que tentou-te à exaustão.
Mas não é por esses vínculos silenciosos
que me farei perdido ou fantasma
nos elos da cidade.
Não são dores o que vou exaltar
sobre o signo do poente indelével
em seu estado bruto.
Não será na boemia,
não será na bronca,
mas no Amor Liberto
que superarei essa coisa perdida em mim
que não é minha,
mas corrói as entranhas de minhas entranhas
sem a sensação da verdade
por ser nada minha...
Na libido e no espaço
ocupo-me com trabalho
o que persuasão é meu movimento culto
que parece desbotado,
mas não está: Arte Vida.
Esse aqui é o culto,
não o oculto.
Estou e sou como sempre fui e serei.
Preciso é da Fé
pondo-me asas para todo o meu fôlego.
Então, o corpo pelo espírito e pela mente
que têm meu coração.

Pouco mais que pássaros

Tirei os calçados
e parecia que um chumbo enérgico e ignorante
saía do meu caminho.
Pus as mãos
em meu corpo já sem camisa
e senti mais ar nos poros
do meu peito,
podendo respirar leveza rara.
Mas quando espichei as pernas
sobre minha cama,
tudo ainda doía
e eu esperava a dor passar
e aguardava por minha Amada
para compartilhar de uma saudade.
Deslizei no escuro
chegado lentamente
no final de tarde do verão
e pedi a Deus
paz
e quis engolir a sua boca
com o perfume exalado de minha espera.
Olhei o verde sob minha janela
e saltou a sua cor
em meus olhos famintos.
Suportei a dor dos remédios
- que confiava e confio -
para o fim de manias, obsessões e confusões mentais
com pouco mais que pássaros
sobre os prédios.
Suspirei
procurando uma não angústia
para minha espera,
mergulhando
num sono de sonho bom...

23/12/2010

E o poema se esparrama pelo peito.
Dessa vez, pelo peito dos pés.
A adolescência, no pico bipolar, retorna:
primeiro um,
depois três,
cinco, então.
Dores nas articulações.
Joelhos parecem ter musgos
e quase rangem
como um navio redescoberto, revisitado.
As sombras das árvores
regem cada movimento
me fazendo arfar,
mas,
ao invés da desistência,
sorrio.
No centro do coração da eterna casa,
onde o Amor e a Morte revezam
ferimentos e cicatrizes
do Corpo, do Coração e da Alma,
volto um pouco mais
e respiro infância.
O dedo sangra.
Eu sorrio, pois, realmente, nada mudou.
"Quando é que não é Páscoa?",
diria minha mãe.
"Ah! Vai sair o cérebro...",
em tom debochado,
meu pai.
Então, nesse idílio,
atinjo o décimo terceiro!
Bravo!
Recorde após quinze anos
no recalque do fracasso,
na urgência para dentro da Poesia e da Canção.
13 balõezinhos para um poema feliz em solidão...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ventura

Senhor Tempo:
liberdade e movimento.
O silêncio de tantas horas nunca demonstrou-se tão frágil
perante a inexplicável lágrima precedendo um reencontro.
Há algo maior!
Esse cantar ansioso pelo nirvana entre suas coxas,
o galgar espaço no reflexo daquilo que distância impera escuridão,
mas dá brechas para a luz das palavras imortalizadas,
o sonho da Amada
são minhas mãos modelando poesia
em suas nuances recônditas de meu contato.
A Arte se faz,
pois aspiro o que plantei, reguei e quero colher: A Felicidade.
Mãos coladas de suor, trêmulas e ardentes
de paixão e esconderijo.
Meu coração sonha, musa exilada!
Meus planos confluem para o
arriscado e objetivo caminho
do Amor que, necessariamente,
terá de enfrentar a dor
para, então,
o bálsamo da vida navegarmos lado a lado.
Penso, Tempo:
estarei eu sendo egoísta, cruel?
Ora! Seu choro, sua poesia, seu Amor
indicam-me que paz é o que deve imperar-me.
Espantosos dias de vazios
preenchidos pela chegada de suas palavras
esperadas com ânsia e fé:
o seu, o nosso cântico silencioso.
Peço razão para não perder a emoção
tão grave desse dia,
dessa partilha,
desse presente de Deus que é o Amor!
Artistas, loucos, filósofos,
essas gentes
que brilham no escuro
raramente têm sorte,
minha musa de cores e palavras!
Aproveitemos a Empatia, a Admiração e o Amor
para que as melodias e as outras palavras
formem
a miscelânea,
a mandala,
o mosaico e
a ponte para os nossos laços -
pois que isso é Ventura!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tudo importante enquanto

Preciso ter fé, Amada.
Em ti, no Tempo,
nesse vento que nos congela.
Sob chuva edificante caminhamos
de mãos dadas.
O solo ungido de paz guiava-nos
absolutos
no rumo da união
que não se desfaz
como e pelas ondas.
E eu li o Amor em ti,
no teu silêncio de preces por mim.
A ciência provava-me que crer
põe-me cura
na mão que te estendo o Amor.
Na perdição eólica dos vícios,
ingeri o fel do inconsciente
traduzindo uma derrocada impiedosa:
um sonho que deveria ser pesadelo
para me fazer suar de alívio.
Porém, não o concreto que me fazia rei e monstro,
mas o éter da memória
indagando minha poesia.
Hoje conquistei meu dia, mesmo com medo do vazio.
Paciência, saudade e fé
embutidas
numa angústia que Deus
me concederá passageira, embora árdua.
Paranóica prisão que dobra sinos bipolares
enfeitiçados por tufões libertados
pela luz que,
concedida estrela,
certa manhã, me guiará
porque meus pés brotados de raízes da força do meu coração,
sobre terra infértil desses inconstantes,
mas sombrios badalos,
frutificará a Serenidade do Espírito!
Inquietude, vômito e encefaléia: o aborrecido ser dentro de mim.
Eu aqui,
dentro só,
um fora,
meu
fazer
dentro
e
ao redor
dela.
Clara angústia da espera:
cinco dias para eu respirar em silêncio
não ignorando o que dela inspira.
Pobre dor velha, aviso-te:
vou ganhar porque sou um lutador de fé!
Não fraquejo no que tentas me tirar sentido.
Gasto meus dentes e olhos pondo meu arpão
na dor,
até claudicar,
e meu peito respirar
num sorriso.
Meu desígnio de Deus exposto em Obra!
Eu tenho o talento da dor.
Exagerado Amor castigando-me.
Exposto Amor: acompanhado dramalhão
do que se quer
e pode ser beleza!
Não me proíbo.
Busco o equilíbrio
e sensorialmente me volto para ela
numa saudade pouco menor,
com importância.
Não sei o que significa a palavra limite.
Pois que força e graça põem-me leve
no que supero diariamente.
Das vezes que perdi-me, a percepção foi no fim do ato de afogá-la...
Qual o limite dela?
Eu quase descobri e por ali fiquei,
finquei sem machucar,
chorei por partir,
reclamei para logo voltar.
Silêncio e proteção
depois do vômito de todo aquele café.
A voz dela então,
e um sossego finalizando o ardor da escrita,
pois que era,
como o poético café,
um vômito outra vez.

Fera

Eu quero não mais doer.
Eu quero que essa minha cara espremida
largue meus olhos.
Eu quero que meu coração permaneça aqui
e que
o que
o meu cérebro domina intenção,
esmoreça no gesto real.
Eu quero o poder em meu crânio!
Sinto meu corpo corroído e engasgado
porque o meu eu
se fere por não ter,
na mente,
freios.
Os subterfúgios e as loucuras de minha mente
- como achar que deveria ter feito isso ou aquilo
a determinado espaço de tempo
antes que o meu inteiro ser fosse subtraído em metade
ou aniquilado -
não me deixam fluir.
Eu estou ferido.
Ando infeliz pelas ruas
e a casa não me conforta.
Estou doído e preciso superar o que me contorce.
Não há fuga, há perdição.
Saudades, saudades...
Dias de agulhas espalhadas pelas articulações.
Noites solitárias e desbotadas.
Quando caminho pelo ar
sentindo que o chão me guia,
o medo não absorve minhas forças.
Nesse exato momento
parei meu trabalho,
caminho árduo e profícuo
da tinta inspirada no ser.
Pois o que me veio foi outra voz,
outra vez a voz não minha
soando o ranço cretino da morte
como um mormaço pegajoso na pele
que o ar envolve
pra lá e pra cá,
pra lá e pra cá...
Descrevo minha angústia e ela se foi já.
Um mar solitário usa suas ondas
como correntes,
tentáculos
do monstro marinho
a procura de meu corpo.
Nada do que esse azul sente é meu!
Nem o fundo,
nem o que se diz belo.
Tudo é enganador.
Lanço ao vento minha lâmina
e tentáculos do mar corto
e eles secam no ar e somem na força
de minha inteireza,
atento ao real caminho
e ao real ser.
A luta é toda manhã
quando
o sol me encontra
e eu o saúdo
com a honradez
de um cavaleiro.
O Olho Infinito dos Dias
abrilhanta meu corcel
e empolga-me
com energia vital.
Eu, num gesto certeiro,
guio-me à praia
- campo de batalha -
e faço daqueles monstros de sal
grãos como os que piso,
destruídos pela minha essencial espada
e pelo gesto centrado e altivo
de meu coração e de meu corpo
não deixados ao léu,
porque dominei,
com meu ser,
os diabos das ideias oscilantes
como as ondas tentaculares
desse mar indigno
que não mais me afogará!

Brisa

Brisa é um sorriso indelével
em meu ser
no trabalho artesanal
das mãos.
Tem luz própria soprando
a melodia da Natureza.
Sob seus olhos quase verdes
e de grandes pálpebras,
há montanhas
de bondades e lascívias,
e eu ponho-me
no encanto de seu brilho.
Estrelas tem nos ombros
articulando
a devoção
de sua caridade.
Sua boca vem no processo dos dias
com as qualidades divinais de fêmea.
A vejo correndo.
Eu sou um lobo.
Ela, pássaro
sobre
o carrossel de meus caminhos.
Ternura e Arte
deu-me
até minha selva
que espera por ela
no findar dessa escuridão,
na prova do verão...


"Húmus"

Que fome sinto!
A fome do poder perdido.
A incapacidade venal de amar.
Na memória do braço morto
não entregue à paixão,
razão sobre os estilhaços da emoção vai produzindo,
no tato obscuro dos mares,
ser amanhecido.
Linha exangue entre o pensar e o sentir.
Produzo o dia a partir da necessidade do meu todo.
O espólio frágil, conquistado com suor não meu;
o que sempre tive sem desperceber
a injustiça, o engodo, a miséria e a fome
que se tornam minhas
no momento em que
vejo-as
e
sei-las
de um ser humano a danar-se;
o olhar recuperado de um irmão
fadado
às derrotas abissais da vida
me propõem um prisma
que força reencontro
para safar-me da perdição.
Luto a cada manhã porque tenho de
reconquistar-me
para
conquistar
meus objetivos.
É um mundo confuso esse onde plantamos amor...
Pois o saciar do amor
não se colhe de árvores desprovidas de seu fruto,
mas da terra
no seu húmus mais profundo
produzido pela natureza mais escura!
E, então,
a nosso tempo,
em cada mão,
temos o fruto universal
regendo cada ponto no céu de coração a nos guiar
as almas e as capacidades
intrínsecas
à nossa frondosa humanidade!

Elixir

Crê em mim, mulher qualquer.
Que qualquer és
porque não sei quem és,
mas sim de tua existência
por onde sonhas e
pesadelos vives.
Tua graça virá
no ar
como vêm
os perfumes
das lendas de todos os Amores.
E, no entanto,
lenda será
apenas
o que
de amores saberão
os aprendizes
de nossa generosa comunhão.
Oh! Por onde andas,
mulher que perdi
porque fé em minha solidão desvaneci
e subjuguei meu peito
à voraz paixão unilateral?
Não me dano
senão sossego
a fúria no pensar.
E o sentir se propõe
o mesmo
para a natureza encantada
que tuas formas desnudas
nos seios aflige
o arfar ondim do Amor.
Eu, entusiasta dos cegos
que vêm o Ilimitado,
não aguardo
senão confio,
porque me reconstruo.
A musa está a brilhar
em cada lua
na família
da solidão.
A solidão
não me avilta mais
porque o céu
é o elixir que traz
a constelação a brilhar
os olhos dessa mulher
no meu coração.


domingo, 5 de dezembro de 2010

Esse poema não perdido no ônibus

Me dá teus seios
pendendo
como gotas de girassol
sobre minha fome.
Arde teus olhos cavernosos
com as lágrimas de minha pele
resplandecendo
para o teu sorriso.
Franco, subdividido.
Claro na confusão.
(Oh, não! Oh, não!
Preciso de um parêntese de dor!)
Cansaço.
Ontem para nós,
agora para amanhã
de novo contigo.
Imagens canhestras não substituem
o que coração e corpo carregam.
Eu vou morrer louco
no cancro inevitável
das altas quedas,
das profundas ondas...
Mas, por enquanto não.
Vivo até amanhã.
É menos difícil assim.
Sonho com minha palavra ouvida
por Deus
enquanto chegas no meu altar.
Tu também és prece, mulher querida.
Não desanimo.
Penso.
Não vomito.
Suo.
Da luta e do sangue aprendo.
Da loucura posso até ser escravo,
mas apanho gritando
para,
em paz silenciosa,
libertar-me e,
então,
tu, mulher,
nos cantos que os ventos entoam.
Arcada dentária.
Hálito de tua vagina.
Meu sêmen chorando para sorrirmos no teu útero.
Bifurcações, mas até ti por mim.
A melodia do tempo agitando teus seios despidos.
Insuficiência amorosa.
Amor exacerbado.
Tua celulite, minha feiúra.
Tua beleza, minha loucura.
Minha destreza, teu coração.
Minha encefalite, tua oração.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

SARAU POÉTICO MUSICAL

dia 10/12/2010

17h

local: SEDE DO PC do B
EM ALVORADA

PARADA 48
RUA DUQUE DE CAXIAS, 30


ENTRADA FRANCA

venda de:
CERVEJA, REFRIGERANTE E ÁGUA

presença de JOÃO CONY com violão e os livros

"TUDO O QUE POSSO VER" (poesias em prosa)
e
"CONTOS"

E OUTROS ESCRITORES DA REGIÃO METROPOLITANA