segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Contraste

Dizem - alguns filhos da puta - com seus sorrisos
Calmos,
Enquanto deslizam de um cômodo para outro
Em suas mansões
Para seus fedelhos bem-nascidos,
Entornando soberba e umbiguismo,
Que nada os irá atingir
Simplesmente porque seus banheiros são feitos de
Mármore
E suas taças de fim de ano, de cristal.

Dizem - alguns filhos da puta - com seus irretocáveis
Gestos
E vestes elegantes,
Enquanto mandam alguém
Apressadamente abrir a porta
Para a entrada de mais um conviva a seus palácios,
Que lá dentro não há espaço
Senão para seus iguais,
Os que lhes oferecem mais lucros,
Os que lhes lambem os sapatos
Porque já trocaram beijos em anéis de noivado
Para salvar-lhes bens e fortunas.

Dizem - alguns filhos da puta - com seu desdém
Pelo penetra da festa
Ao isolá-lo
E dar-lhe as costas e a seu amigo trabalhador
Fazendo a discotecagem, que não são dali,
Por isso, em silêncio nem os fitam
Senão para dizerem
"E aí, negão?
Tu não tem ginga,
Só vai ficar aí paradão
Com teu amigo ruminante?"
Racistas
Reclamando que acabamos
Exatamente
Com aquilo que sempre lhes fartará...

Mas nós, Negões,
Dançamos
Fazendo a nossa cabeça
Com a sutileza de suas surreais instruções
Dentro de seu mundo artificial.

Nós, fora de contexto,
Examinamos o seu ainda usual Francês
Debochando de nossa presença.

Nós, que nada somos,
Descemos da cobertura
E fomos até o sambão -
O pé no empoeirado chão,
O aperto de mão
De um desconhecido irmão
E um contato com uma bela pobre mulher
Ao empunhar o violão.

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