sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Chamado

Vem aqui perto.
Isso, assim.
Toca em meu coração
duro e o amoleça
com ternura,
sem pressa.
Me esvaio ao fazer
o teu coração seco umedecer
veias e artérias,
irrigando o cérebro
para as sensações que raramente incendeiam.
Chega mais próxima a mim, sem medo.
Meu sorriso te convida
para um passeio pelos canais
entre matas desvirginadas
e o meu remo
tu conduzirás
por entre o estreito e o mais profundo
da natureza.
Leva-nos!
Confio em ti
a ponto de fechar os olhos e sorrir.
Posso sentir facilmente
minhas mãos
triturarem
as pedras em teus ombros
depois que a força
desobstrui tua rigidez
e, o suor,
da leveza,
difundir no que deriva.
Dessa vez
tu chegas primeiro,
apesar de,
novamente,
eu ter começado:
aqui estarás tu,
sossegada,
sobre meu peito ainda palpitante.
Portanto, não paro no caminho,
o movimento intensifico
nos meus braços que te protegem,
e busco-te avidamente,
enternecendo pra dentro de ti
o sorriso que recebes com o olhar,
e então, concebes a vida
que nos descansará na terra.

Estrela

Estrela incandescente enclausurada no tempo do céu.
Estrela errante e convicta de uma noite para si.
Brilho de madrugadas quebrando perfumes.
Gosto inteiro de um momento.
Sonho intenso do teu choro.
Estrela cantante no chover da manhã.
Nuvens rasgadas em meu peito pelo teu pranto.
Ninguém, por mais que tentemos,
conseguiremos amenizar minhas vísceras!
O volume efêmero do conquistado mergulho
na tua constelação
clama no uivo de um cão mudo.
O transtorno, faminto e quieto,
sobrevoa tempestades que eu,
saciado,
saboreio
o líquido, o elétrico e o gaseificado
pela louvada terra!
Nada sente,
após um céu chumbado,
aquele que,
provindo da terra,
envelhece no vôo de sonhos.
Estrela bela e de cativante ira:
cadente sejas até o choque sobre mim,
vaga-lume
te aprumes
para o palco em meu jardim!

Procura: aqui

Quando eu procuro as palavras
- mas não agora -
perco o sentimento.
Toda vez que penso que precisas do meu conforto
te ponho ao longe.
Meu problema?
Ainda achar que sou Deus
e que posso te aninhar
num céu
que nem mesmo eu possuo.
Por que ainda tão difícil compreender o silêncio
se nem mesmo essas
palavras têm poder?
Explicar aquilo que não há oratória é perder a prece!
Esse coração trêmulo
ardendo
minhas mãos.
Meu toque gemendo
teu vulcão que,
em lava,
como hecatombe de uma cidade iluminada,
eu resfrio na escuridão oral.
Depois, a velha expressão procurando,
ao teu modo, a ti.
No amanhecer estabanado,
tento te mostrar que vejo,
ou vi - tardiamente, sei -
mas cheguei a algum lugar que já me mostravas
por outros descaminhos meus e,
em poucas palavras,
deslizo no chorar
reconhecido
do não choro
do olhar.
Por aqui prosseguimos,
um ao redor do outro,
trespassados de humanidade
e procurados pelo que parte de dentro.

Pedras que rolam

Tua vela, meu irmão, está mais curta.

Inflamada indistinção entre dor e meio termo.

Caminhei outra vez por aquela rua

que nos diferencia no tempo,

mas nos reúne por

minutos na história.

Não reencontrei teu abraço fraterno

dizendo

ser importante


para resgatar-te do pesadelo

interno.

Tampouco teus olhos estavam

- para marejarem -

reconhecendo teu limite extrapolado.

Dos gestos de força na minha memória

não guardo plenitude,

apenas tua convicta derrocada.

Só tu sabes quem és.

Vagamos por labirintos.

Abismos pulamos lado a lado.

Fomos Deus.

Fomos pedras.

Quão minúsculos

precisamos nos tornar

para voltarmos

à percepção do ar

para muito além

dos pulmões feridos?

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Suspensão

De um lado
a imagem do mundo
criado pelo
teu olhar.
Do outro,
as claras palavras
gesticulando teu
silêncio compreendido.
O todo
circulando no universo
mágico
em que
contemplo e compartilho
da Vida e do Verdadeiro Amor!

Frases do reencontro desejado

Talvez, amada, nunca tenhas

- e nem mesmo eu -

percebido a importância da tua vida na minha.

O cinema, a música, a literatura e o escape da alienação

através dessas Artes,

nas suas influências poéticas e cantantes,

me produzem o movimento em direção a,

e, então, a via dobra...

Somo, ao frio, a presença de teus objetos coloridos

que perfuram silêncio e distância e,

em sonhos e pesadelos, ultrapasso até o céu azul.

Silêncio é sonho quando a palavra não basta.

O calar da insanidade é o mais dificultoso, porém, o mais explorado.

A declaração de Amor é renovada

após o turvo de te ter tão claramente em mim,

quando do teu retorno:

sabor e cheiro indissolúveis

após um tempo nosso em que,

para prosseguirmos,

cultivamos e plantamos na terra

e, então,

nos reunimos!

Consciente

Observa o céu:
está úmido e sem cor, como gostas de amar, indiciando a noite gélida.
Observa as gentes:
trabalhadores orgulhosos de seu dia cansado sendo cumprido.
Observa a ti:
chorando por dentro o alívio - sabidamente - momentâneo.
Observa os teus:
uma constelação em bela transformação.
Observa a tua amada:
com toda essa angústia que tua loucura provoca,
te sorri sob o céu chuvoso, abanando para até logo.
Observa os mendigos:
ruas incertas endereçando-lhes fome, doenças e dores
sob os tetos de Deus!
Observa a tua música:
desesperos dançando conforme a Esperança!
Observa os bares:
que de nenhum mais és escravo!
Observa e prossegue teu Ser!

Dilúvios

Prendo o objeto, que sujei e saciou meu outono da exaustão física,
com duas bocarras unicolores... sempre.
Muitas coisas me vêm como parecem ser e devastam minha percepção.
Passadas as reflexões, as verdadeiras são.
Realidades sem fundamentos surpreendem-me
no trespassar por dilúvios,
desencantados porque não compartilhados,
desetimulantes porque só a quem pertencem,
não deveriam ser.
Giro do vento no revoar do céu atemporal.
Necessidade do controle para a naturalidade.
Choros em sorrisos de fé no organismo invisível.
Sorrisos flamejando lágrimas no etéreo deflagrado.

Culpado!

Uma vez eu quase morri.
Então, para sobreviver, tive de me matar.
Hoje sou outro sem esquecer disso,
e de que tem um suicida adormecido em minha mente.
De todos os meus erros,
o pior é o ato sem hora marcada
dessa tempestade em culpas calando o estio do reconhecimento.
Me sinto um algoz dos que desperdiçam a vida...
Mas todos os dias tenho de me readaptar-me para prosseguir.