A noite de ontem é uma velha triste vomitando lágrimas rugas da cara abaixo.
A noite de ontem é uma mijada desdenhosa no portão daquele prédio na Cidade Baixa quando o dinheiro acabava, quando eu cansava, quando eu me repetia.
A noite de ontem é o não saber-me ontem à noite.
A noite de ontem é dar prazer às doenças assombrosas e razão à doença que eu controlo encarando-a em todas as horas, em todos os contratempos, em todos os atos, em toda ferrugem, em toda estupidez, em toda euforia que me poria na noite de ontem se eu não vivesse uma vida por dia!
A noite de ontem me fez perder amores, me fez desamor-próprio, me perdeu, me desfez.
A noite de ontem não lembro a sensação dela na minha carne, nos meus sentidos, nos olhos delas que eu as tanto amei...
A noite de ontem, hoje pela manhã me estigmatizou: "bebum", disse ele, demonstrando seu amor pueril.
A noite de ontem me passou a perna fazendo-me achar-me herói quando apenas decepcionava.
À noite de ontem, prendi a atenção de muita gente sentada na mesma mesa que eu, mas só lembro de me sentir só...
A noite de ontem não me deixou compreender-me, não foi capaz de perceber-te, não estendeu sua mão amiga para nos acolher.
A noite de ontem me escapou pela alucinação, me prendeu em sua lisergia, me salvou quando acabou e me feriu o dia na veia da letargia em que minha mão jogou a toalha nervosa e suada no chão, fazendo a primeira ação do reino que descobri em meu limpo coração.
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