sexta-feira, 25 de março de 2011

Borrões do Pensar e da Palavra

O que faço com o Amor
tão belamente conquistado
através dos dias
e do que,
Cronos anulado,
me refugio, cobro e não demonstro,
não tem como entender...
A insegurança,
sempre sem chances no galanteio,
se apossa de meus pensamentos cíclicos,
pois tão logo eles desafogam suas angústias,
livro-me,
porém, não da culpa.
A prática discursiva é de se invejar, talvez,
tal a eloquência...
A prática dos atos dentro do mundo
pronto para ser conquistado
é a vergonha,
a ignorância incompreensível,
o borrão da palavra!
O renovar-se parte
do empirismo e do desconhecido.
Há modelos vagabundos, desmemoriados,
desatentos, isolacionistas
que não podem mais possuir meu ser
que, assim, envelhece-nos!
Por que esse risinho estúpido
quanto ao que escorre dos sentidos
e cobrará a cuca
pela desqualificada forma de amar?

Sobre Um Cérebro

Onde se desliga essa máquina fantástica
de massa
expandindo-se em meu crânio?
Como esquecê-la, se ela é quem faz as lembranças,
num estalo, despontarem?
Por que me sacrifica,
obsessivamente controlando sentimentos do coração que,
quando não dominados por suas pressões sombrias,
produzem sorrisos e prazeres que jamais compreenderá?
Preciso de um descanso, seu neurótico!
Os que sentem
só o necessitam
quando quase explodem
num deleite abissal!
Melhor tê-lo como a um amigo, respeitá-lo...
Não o fiz...
Como, agora?
Da energia concentrada e escapada,
posso dizer
do meu insuportável pensar:
constrói e destrói.
Qualquer facilidade escapa usando demais...
Onde está a tomada?
Queimemo-lo de uma vez por todas!
O que soube ele desde o começo?
O quanto aprende ainda,
mesmo sem sinapses?
Qual a quantidade sufocada sem razão
pelo coração indisciplinado?
Cadê aquela calma
que o oxigênio me concedia?

Safadezas

Eu pude ouvir a tua voz.
"Pára!", disseste.
Eu perguntei sobre passos
e ouvi o silêncio e uma indagação disfarçada.
Procuro não alimentar-me da dor, padrinho,
mas só a sinto...
É dor que nem é.
É estranheza na beleza dissipada
num horário agendado
pelo meu desconhecer e desconfiar.
É não entender sem chorar pelo não entender,
porque chorar não compreende entendimento.
Porém, há lágrimas
na mão
sobre esse peito
interrompido pela ignorância.
As Palavras Demais
borbulham química na minha boca.
Tenho certeza dessa calma
em que descrevo a insânia!
Estou terrivelmente calmo!!!
Por não te trair serei traído?
A Natureza me explicaria isso?
O Safado estava certo: tudo isso não passa de tapeação!

Ônibus

Ô, meu irmão!
Tê mais calma...
Estás aqui como trabalhador,
não como o algoz que,
por fim,
põe a ti mesmo
na lata de sardinha seca.
Tua cara sisuda lendo
- ou fingindo ler para elhear-se -
mostra-me todo o nosso desconforto...
Noites racham os céus úmidos
e tu envergas ombros e crânio
em pânico
para a proteção que,
envergonhado pelos atos falhos
e posterior calar,
a todos nós inspiras picardia.
Dias sufocam a labuta que te restou
e tu nem procuras a informação sobre
a temperatura do próximo dia no jornal,
pois sabes já:
o que raia é pura maldade irradiada por Deus.

Quase lá, na orla

Cansado dessa solidão rondando-me,
não me deixando,
fora de meu alcance...
Prefiro ir só,
desfeito por minha atitude.
Traição minha: perdão!
Solidão: vem chorar nos meus braços!
Outro despertar desdenhoso e rançoso coleriza-me.
Mas nada digo,
pois seria uma vergonha dentro daquela estranheza,
que antes era outra coisa que não paz
- mas sem tanta estupidez e rigidez -
silenciando-me
por uma
pseudo-ordem da coexistência...
mas a desarmonia por ora...
A carne e o desejo
esbarram na tua norma casta,
mas são os meus eus mais amorosos em tua direção,
porque afagos.
A calma não é apaixonada,
é triste e cansada,
e sequer me tem como mãos e ouvidos.
Seria errado eu não tê-la desprezado
para sorrir
e te fazer sorriso
depois da agonia ao te mentir?
De qualquer forma
minto,
pois já não estamos...
O tempo cai sobre o Rio Guamá
e eu não choro
porque há como sorrir...

Hoje

Cá estou eu: trancado por ela que deixou-me as cópias.
Posso sair.
Posso ficar.
Por que me fará preterido?
O que há de tão obscuro
- ou de tão óbvio -
que ela não me convidou?
Não gostaria de suas palavras outra vez?
O seu sofá, bagunço.
O que há de tão burro em mim?
A loucura espacial dessas vidas...
Seu passeio é liberdade no seio fraterno.
Meu incômodo
- que já não mais há porque vim aqui compreender-me -
floresce na poesia entoando um hino de maturidade.
Há sua vida pregressa,
da qual tão pouco fala,
por cidades e casas:
dentro, desfamílias dentro de famílias e
de solidões, obstinações, conquistas,
crescimentos consagrados pela luta diária que nunca vi
porque éramos outros por dentro e por fora de outros
que nos geraram e nos formaram para,
hoje, sermos outros.
O que poderia ser mais glorioso do que o instante?
(Essa pergunta já findou...)
Prossigo no silêncio que me inspirou o desafio proposto.
Somos todos tão sós...
Creio que só existo visceral e realmente assim!
Penso nessas casas que frequento...
Quem moramos nelas?
Casa maior têm os artistas!
Mas como são solitários...
Situação Nova, estou Te desafiando!
Dessa vez, tempo e espaço são meus aliados!
Há dor nisso tudo.
Mas há propósito na dor, por ora.
Sirvo somente ao meu coração!
E ele está inteiro por aqui!
Teria outro lugar para me desafiar agora?
Cá prossigo eu: libertado por mim sem deixar que de meu pior copie!
Logo, cá estaremos!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Teus olhos

Doces: o cheiro do mato
no meio do obscurantismo concreto.
Loucos: a libido extremada
na lascívia liberta entre o que palavras e atos
fazem o mesmo sal que saliva em nossas bocas.
Tristes: as trancas de tua história
saltando artérias oculares,
poços de lágrimas
que meu abraço e compreensão,
em tua contenção,
aliviam,
adiam a palavras...
Silenciosos: dizendo tudo o que a Alma Corajosa,
dispensando trancas,
prossegue o não piscar,
fazendo a aventura do sorriso.
Cor de Sol na minha noite só:
a saudade mais terna, vulcânica, dócil...
Idílio de Céus na memória olfativa:
com ou sem estrelas,
o olhar pra cima
nos derrama chuvas de perfumes
que aromatizam a atração
e fazem-nos união.
Percepção de meus Eus nas lágrimas de tua admiração:
faço o meu mais profundo e genuíno,
dás-me o teu mais simples e sublime.
Vibração de teus encantos por todos os ângulos, volumes, movimentos e deleites:
o Amor e a Paixão
que a voz da hora diz
como vingam
o Tempo,
o Sentimento
e a Razão.

terça-feira, 1 de março de 2011

Vandalismo: tão bonito quanto uma pedrada na cara de um guarda!

Mas a pedra não sai da mão.
O ar não é para respirar.
A fumaça é engolida para o alívio no jantar.
Treme, irmão, treme.
Nada te resta além da ilusão.
Eu que mendigo empatia
sangro por ti nesse caderno sujo.
A foice é só a da Morte.
O martelo é a sirene doente na cabeça.
Noite sem fim
num Bom Fim
de restos mortais avisando a todos nós.
Mas para qual fim,
se os que produzem e reproduzem restos mortais
se alimentam exatamente
dessa ex-humana carniça?
Eu me espanto, sim,
pois ainda me espanta
a falsa cegueira.
Vândalo sou eu?
És tu na luta seja lá contra qual injustiça?
Ou são eles,
os escrotos de gravata
comendo caviar e cagando os restos
pra fome nos barracos,
nas periferias,
na pequena burguesia
idiotizada e metida a besta
se perdendo?
Diabos!
Pega essa pedra em minha mão, irmão!
É diferente da tua!
Não dissolve em combustão
e chama uma briga boa de verdade!
Lá onde eles estão,
não na tua pobre e esquecida alma
onde a fumaça
toma conta do teu corpo
e corrói teu coração.
Pega essa pedra aqui, irmão!
Prometo contar até três
e arremessar uma outra também...