sábado, 29 de maio de 2010

O Abraço

Dias longos.
Solidões matemáticas.
Um beijo a cada manhã amenizando.
O silêncio da exaustão a noite.
Um choro teu que não pude controlar.
Um espaço apenas teu.
Então, amizades numa janta
em que me davas outra vez tua mão.
Minha disformidade tentava não pensar.
As piadas ajudaram-me,
suavizaram o momento.
Tu não me tocavas de novo.
Eu não te tocava.
Fomos embora de mãos dadas, porém.
Perguntei e falei que via coisas demais
onde nada existia.
Concordaste calmamente.
Eu até sorri, mas não tem graça...
A manhã veio
e o tempo
era para cada um de nós:
tu pra lá, eu pra cá
e isso é Amor também
porque há respeito.
Engoli o mar e enrouqueci.
O sol não ardia, mas sustentava-me por ali.
As pessoas tinham pouca graça.
Te aguardava procurando não pirar.
Paranóia emblemática:
saudade que se deseja por fim.
Tu sob o efeito das flores que só vi uma.
Espera doentia sem saber de flor.
Tu chegando com o sol no rosto.
Eu ainda inseguro e paranóico.
Diálogo impossível.
O tempo ardendo.
A Arte me recuperando na viagem de volta.
Eu te admirando,
vendo o quão responsável és...
com teu trabalho...
Na noite anterior
tu tinhas chorado
e eu queria entender,
queria saber se eu havia feito
algo sem perceber.
Diabos!
Finalmente tu disseste que não.
Eu fiquei tranquilo - um pouco,
pelo menos -
e te deixei chorar poesia.
Pensava demais,
um tambor girando na minha têmpora.
Te imaginava dançando
e me olhando
com Amor e tesão.
Chegamos e deixamos a todos com afinco,
pudemos acolhermo-nos:
O Abraço
que não me sai,
que me responde a todas as dúvidas e dores,
representando fielmente
todos gestos de Amor,
toda nuance corporal indicando
trabalho cumprido e um conforto
que lembrava o abraço da praça:
era noite,
mas amanhecíamos...

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