Rouquidão de sono.
Uma canção para um bebê.
Voz de livro.
Palco para asas.
Som do mar nas palmas das mãos.
Nada lá fora.
O sonho era uma casa alagada até o teto em que todos flutuávamos no conforto.
O sonho era uma escada em espiral de ferro até a porta que,
no instante de se abrir,
eu descia num furacão levando o calor do sono
e eu voltava a respirar,
mas esbaforido,
reconquistando meu coração estraçalhado pelo tétano nas ferrugens da escada.
O sonho era finalmente entrar no apartamento
e ver no muro vizinho
um sem-número de gente feliz
se equilibrando sem me notar.
O sonho era uma mulher nua de cabelos compridos e pretos sobre
os seios
com os braços
abertos
diagonalmente
para baixo
guardando um feto morto de lobo.
O sonho era um salão gigantesco
onde a amada me conduzia com meus trapos
para dentro de um tubo de ensaio substancialmente ungindo-me com o mel da loucura.
O sonho era um beijo real
dentro de um sonho real que sonhei
e depois vivi
na esquina em que arrepiei
quando percebi
aquilo ser um sonho de verdade:
um beijo sobre a chuva da liberdade
depois do sol do álcool.
O sonho era a morte do irmão mais frágil
procurado pela avó
ao tocar as mãos
sobre os escombros de uma cidade,
a energia da Natureza esquecida.
O sonho era aquela baixinha
que eu desrespeitara endeusando meu corpo com sua boca:
agora a sua vergonha era prazer e,
minha loucura,
realidade.
O sonho era todos os dias viver,
colocar os pés no chão
e construir o caminho e a casa,
criar a Arte,
conquistar o Verdadeiro Amor numa mulher não louca
e ter filhos sob a bandeira concreta das utopias
flanando nos atos sábios e pragmáticos
do despertar...
Um comentário:
oie, João, como tah?
Postei um trecho de um dos teus poemas lá no meu blog prá divulgar, com o endereço do teu. Entra lá prá dar uma olhadinha!!!!
bjoooo
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