segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Reticências

Não me queimarei pelas culpas
daquilo que vem à mente
como avisos dessa alma desassossegada
que me conta sobre meu futuro
e eu não creio
porque nem sempre dá certo,
pois que, em verdade,
não são alma,
portanto,
não há culpa.
A tensão do que faço contra o que as perturbações agridem é um terremoto constante de diamantes.
O cansaço pedindo que acabe a saudade daquela tarde, daquele sol, daquele sorriso: um despertar.
Confusões, caminhos, jogos, silêncios e memórias...
Riscos paranóicos.
Existências paralelas no absurdo das têmporas.
A droga agora é a cafeína.
O sexo dela é uma terra que minha mão adubou
no afago do ar e da água
para a flor da sua verve artística.
Ela tem talento disparando
para o céu
de todas as evocações
pelo que há de Dom em meus poros.
Ela propõe um sorriso que me desvirtua do habitual sorumbatismo.
Ponho-me para cima em seus lábios.
Caminho pisando nos fetos mortos e utópicos.
Eles não reagem, apesar da dor.
É uma parte de mim isso, essa maldade infantil, essa agressividade no escuro.
Depois, a dor de um castigo extremo pela exaustão,
não pela razão, por exemplo,
como a exatidão das bombas de sangue e saliva
enquanto, na íris dela,
penetrava minha poesia.
Analogias fantasiosas dão-me o velho fastio...
Desdém entorno sobre o topo dessas intrusões
e escalpelo,
no respirar,
que sofro,
mas supero porque da base à essência,
assim como me apresento, sou.
Não vem, no momento de minha Liberdade
- dessa morte que não morre -
desvirtuar meu andar.
Doença se vence no prazer.
E ela virá no contragolpe da Arte que faz contato
sobre a repressão
do momento de depressão.
Lua extrema.
Sol do rio.
Luta alusiva.
Ideal da maioria por natureza massacrada por hegemonia elíptica.
Um descanso.
A luta até o último sofrer, a última busca, pois que o prazer enfim...
Eu sei que em menos de 48 horas estarei me divertindo.
Ela e eu: reticências num 23 de setembro...

Violências, Acordes e Flores

O seu perfume coroava meu sono.
Inacreditável silêncio...
Inanimado eu.
Absurdos da mente.
Então, a voz dela e tudo bem para o caos, tudo bem para o rumo.
Noite em cadeia.
Habito-me.
Mais! Ela! Mais dela! Eu em mim nela!
A estranheza de minhas palavras...
Matizes, sonoridades e grunhidos são violências, acordes e flores.
A substância do seu beijo era a Liberdade que eu dava e tirava como a natureza do movimento das ondas.
Dei-lhe meu profundo, meu vil.
Não neguei-lhe meu subentendido, minha devoção.
Tinha-lhe no objeto do corpo,
no transcender da alma,
na lamacenta paranóia,
na doença incapacitante do Amor.
A tinha, sim!
Mas a perdia por dentro
de pesadelos
e dubiedades
na conseqüência
do que percebia
meu gentil gesto.
Era incongruente meu penar!
O mundo jamais seria meu!
Eu só queria aqueles momentos em que o mundo inteiro inexiste!
A paixão é um delírio hostil e encantador!
Os meus poros sentiam saudade do cheiro
que a infância exalava
pelo sangue dos meus joelhos,
pela alergia dos meus cotovelos.
Ser pai talvez seja pôr em ordem as fotos das sombras desavisadas de nossa infância.
Uma noite em aflição na raiva daquele vagabundo que zanza pela doença.
Depois, o conhecimento
quando
quase
a morte
ludibria as asas,
e a doença,
curada uma vez por dia,
põe ninho no céu do conforto.

Na Ordem Perfeita da Tempestade

O aroma dos lábios plantados por meu toque no sorriso incipiente da pele.
A flor nos cabelos presos por um grampo de osso que a vovó deixou de herança pra ela...
O sal nos olhos de sol germinando o céu na terra.
As entranhas, em sinos, renascidas na voz, na poesia e na canção do silêncio.
Os dias suando o tempo na ordem perfeita da tempestade.
As pedras ocupando mãos de pianista...
O arpão lançado rumina fonte e fere fim.
Qual o gosto do desejo?
Em que gesto defino o que?
Quando quase perco é tão especial...
Desconexão...
Te procurarei, sim, Humanidade!

sábado, 2 de outubro de 2010

Rosto de Luz

Rosto de luz?
Rouquidão de sono.
Uma canção para um bebê.
Voz de livro.
Palco para asas.
Som do mar nas palmas das mãos.
Nada lá fora.
O sonho era uma casa alagada até o teto em que todos flutuávamos no conforto.
O sonho era uma escada em espiral de ferro até a porta que,
no instante de se abrir,
eu descia num furacão levando o calor do sono
e eu voltava a respirar,
mas esbaforido,
reconquistando meu coração estraçalhado pelo tétano nas ferrugens da escada.
O sonho era finalmente entrar no apartamento
e ver no muro vizinho
um sem-número de gente feliz
se equilibrando sem me notar.
O sonho era uma mulher nua de cabelos compridos e pretos sobre
os seios
com os braços
abertos
diagonalmente
para baixo
guardando um feto morto de lobo.
O sonho era um salão gigantesco
onde a amada me conduzia com meus trapos
para dentro de um tubo de ensaio substancialmente ungindo-me com o mel da loucura.
O sonho era um beijo real
dentro de um sonho real que sonhei
e depois vivi
na esquina em que arrepiei
quando percebi
aquilo ser um sonho de verdade:
um beijo sobre a chuva da liberdade
depois do sol do álcool.
O sonho era a morte do irmão mais frágil
procurado pela avó
ao tocar as mãos
sobre os escombros de uma cidade,
a energia da Natureza esquecida.
O sonho era aquela baixinha
que eu desrespeitara endeusando meu corpo com sua boca:
agora a sua vergonha era prazer e,
minha loucura,
realidade.
O sonho era todos os dias viver,
colocar os pés no chão
e construir o caminho e a casa,
criar a Arte,
conquistar o Verdadeiro Amor numa mulher não louca
e ter filhos sob a bandeira concreta das utopias
flanando nos atos sábios e pragmáticos
do despertar...

Balsa Infernal

Balsa infernal.
Luz de nenhuma estatura.
A alergia sangrenta de dez anos no suicídio do cheiro de teu amor.
Aborto amoroso da minha covardia.
Bíblia anal que eu estuprei no teu coração.
A alma da criança desceu com toda a carne e o sangue por onde enfiei amor e paraíso,
e tu choraste silêncios em meus cálices entorpecentes.
Ensinaste-me a gozar e a chorar
quando mundo era trevas
e, espelho, zombaria.
Claudicante ensaio de homem.
Homenagem de Deus nosso Amor.
Perfeição em teu ventre -
vômitos e indiferenças calculadas -
transtornos eternos rejeitaram.
Dor labial sangrando praias de vãos lado a lado.
O céu chapado no sofá para a esquerda na paixão.
O lodo no sofá para a direita na despedida.
A obviedade da tua razão sobre a doença!
Minha condenação estúpida:
"socorro, doutor! Eu vou me matar!"
Era o que meus olhos gritavam lá de cima
com a carta de despedida no bolso da calça rasgada e desbotada
naquele trabalho-prisão.
Desencontro fetal:
alma e carne na paixão
que a vida nova
não exposta por teu útero
me custou.
Dez anos de teu cheiro distante
e a memória vindo
brincar de Deus...
O perdão, o preço e o sonho...
Não tua presença.
Apenas aquele anjo de nome impensado rondando meu desconforto...