terça-feira, 27 de abril de 2010

Câncro e fome

Eu tenho um verme agarrado às minhas costelas.
Ele come meus órgãos lentamente
e minha carne coça por dentro
uma insaciável coceira
abrindo caminho
num abismo imenso e escuro.
Nos meus olhos
há um câncer faminto
obstruindo os brilhos
do alimento deixado
pelo sol nas frestas
da caverna de Sofia.
Ouço uma cantiga indígena
nos olhos sedutores
de uma criança que eu quero devorar.
Mas ela obstrui meu coração...
por ora.
Ela se vai
espalhando odores lascivos
num coquetel de sabores em que,
sua carne,
dividiu comigo.
Eu retorno, deseperado,
do covil
e contorço-me
para um pesadelo súbito.
Eu quase não acredito que existe tal beleza...
Quando ela for mulher, lhe darei amor.
Há um vômito ungindo meu queixo.
Eu acordo quase afogado.
Ela era o sonho que eu queria sonhar porque era a realidade que senti.
Mas aprendi que sonhos de nada servem
quando é a mente que ganha do coração...

Um comentário:

Pâmela Grassi disse...

João,

Teus textos também exalam palavras de uma beleza ímpar,

Fico por aqui, à merce de outras mais,