sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Umbilical

A dor e a leveza de te perder para o colo umbilical de Deus...
Entro na noite,
escondido em teu silêncio
a procurar nossa foto...
a mais expressiva.
Dentre tantas,
a única que não achei,
a única que eu queria emoldurar...
Eu e minhas feridas:
memória será sempre uma corrosão
e uma ternura ao mesmo tempo.
O intervalo entre o céu que conheces
e o que eu imagino é incomensurável...
Vibro Amor.
Sangro dos olhos a dor para,
dela, libertar-me.
Perco o fôlego.
Suspiro meu coração
mastigado cru pela incoerência
que é tua morte.
Respiro pelo teu legado
e enfrento mais um dia,
outra vida,
já que, agora, sem tua presença física,
sem tua voz,
sem tua ironia,
sem teu viço nos olhos
tatuado em minha alma.
Quinze anos atrás
te disse que desejava morrer,
que essa vida não me interessava mais.
Tua resposta foi o espanto, perguntando-me:
"Cara! Mas pensa na gente! Na vó,
em todos os teus amigos!
Como é que a gente vai ficar?
Pensa como é que eu vou me sentir!"
Lembro de sorrir por ver teu Amor
sorrindo um desespero
nos gestos,
nos olhos,
nas palavras.
Estou aqui, não é?
Diga-me, guri: eu estou aqui, não é?
É...
Agora elas vieram,
já que te chamei:
lágrimas da saudade dançam
tua coragem e tua memória
em meu rosto de bebê velho.
Estava com medo da caneta e do papel, reconheço...
Como vou criar outra coisa agora
senão a tua vida que terei de inventar
para acordar todos os dias?
Esse sentimento...
será isso coisa de Deus?
Por que em quem tanto confiei,
agora me tirou tantos amanhãs
e me deu esse inferno na alma?
Meu solitário trabalho:
nosso alívio através do tempo,
pois tu deves estar me vendo chorar...
De onde?
Aparecerás pra mim de novo?
Poderias, por favor, me trazer
a explicação que Deus te deu?
Que Deus não me dê,
nessa vida,
maior dor
do que a que sinto
nesse eterno agora!

(para Matheus Cony Lopes dos Santos,
in memoriam)

domingo, 8 de janeiro de 2012

"Cores"

Teu olhar de terra preta,
fecunda para o hibiscus.
Vermelha boca, sangue, fruta, carne:
suco escorrido,
massa caminhante com bandeira no coração.
Além, se vê o céu:
tempestade e estio
alternam-se sobre o éter de concreto
que os sonhos
- sempre volantes -
desconhecem medo,
feito ternura e ironia num sorriso.
O Amarelo Deus seca e umedece os corpos,
agora flâmulas de ouro derretido
em chamas ao vento.
O cinza intempestivo
é sufocado
pelas cinzas
do vulcão em lavas
de nossas mãos,
início prazeroso do céu
que choverá saudades
no fim desse mesmo gesto da pele,
objeto de tendências destrutivamente solitárias.
Chove...
Somos cegos geográficos.
Depois, o azul:
abóbada infinita
para a qual apontamos o vislumbre em par
nas nossas nuvens:
a Liberdade
das pontas dos dedos
escorrida para as palmas das mãos
e, dali, alcançando
a ardência da carne
que guarda o coração...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

AGENDA DE APRESENTAÇÕES

1) Dia 31/10, das 15h às 17h Bate papo com João Cony e leitura da sua obra, às 15h Sarau na Floricultura e Cafeteria Amor e Flor. Rua Taquara, 563 (esquina com rua Carazinho) 2) Dia 5/11, das 14h às 16h Lançamento da Coletânea Voo Independente 10, da AGEI (Associação Gaúcha de Escritores Independentes) Memorial do Rio Grande do Sul 3) Dia 13/11 Sarau com a participação de João Cony e Cláuber Scholles (guitarrista) Local: Território das Escolas - Cais do Porto das 19h às 20h Programação da Feira do Livro 2011 de Porto Alegre SEJAM BEM VINDOS! BEIJOS E ABRAÇOS João Cony

sábado, 6 de agosto de 2011

Princesa Mulher do Povo

Nada além.
Nada aquém.
A contínua espera, princesa mulher do povo.
A voracidade do meu coração
te corando com coragem.
Sou um pobre desleixado encontrando riquezas
a cada olhar fitado pelo acaso
até a Liberdade que te dás
- porque eu ousado -
ao aceitares,
pelos meus olhos,
o que os teus há tanto diziam...
Serei eu só mais um louco
na tua memória
enquanto sonho
teu disparo
em minha direção?
A minha boca treme
o que cala o coração
vagabundo de não sentir.
O coração
queima
pelo que produziu,
em ti,
palavras.
Simples como o passar das horas
em que, silenciosamente,
aguardo-te
percebendo ter um coração.
Sim: um coração movendo um corpo
embebido na fragrância da alma
com a simbiose que os olhos denotam.
Depois da tua íris,
o tempo parou,
e o credo de te ver
sob a espessa névoa
que teu sorriso encanta inverno,
é o relógio caloroso da ternura...
O que mais haveria eu de sentir
na noite em que faço o de sempre:
esperar?
Nada além.
Nada aquém.
Mas sobre a atmosfera que tuas formas
- depois tuas inflexões e gestos -
seduziram-me,
há essa nebulosa multicolor enredando-nos
- mente com mente,
coração com coração,
alma com alma -
induzindo nossos corpos
a um ponto comum incandescente.
E é isso o que me faz maior
do que o Tempo dentro do silêncio ousado
que me dou o direito
porque fiz-me palavra em ti
e sou o príncipe do povo
com as portas abertas do peito-abrigo
onde construo castelo sem muros
para o nosso conforto...

(7/8/11)

Princesa Mulher do Povo

terça-feira, 7 de junho de 2011

Bandeira Vermelha

Sei do ontem entre a expectativa de um prazer coletivo e uma neblina em minha alcova.
Sei do hoje que me debato nos braços da derrota que me acorrenta.
Não sei do amanhã, do porvir de um pássaro vermelho cujo nome carrega no coração do povo o admirável e seco gosto vil que dramatizo em minha boca que gritou aos quatro ventos as palavras de nossas lágrimas.
Satisfaço-me em minha simplicidade só, como alguém que não aprendeu a perder.
Perdido em minha alma, meu sentimento calejado aprofunda para dentro de mim, que não reconheço no espelho velho de efígie sombria.
Carrego meus passos cegos que não sentem a dor do sol que desaba sobre um corpo.
Velho: foi assim que o nosso inimigo nos julgou por não entender da sabedoria que o tempo trás.
Novo: é assim que desvendo minha dor.
Rastejo até o momento de prazer tão raro que mal posso admitir uma felicidade.
Não quero mais olhar as ruas.
Tenho vergonha da perda, e ver o palácio alheio enche-me de sombras.
O que restou foi a luta admirável da nossa bandeira que ao vento enobrece nosso abraço de lágrimas que, com nossa paixão, sabe por onde derramar-se.
Esse lugar é o nosso rosto que representa com força a voz dos derrotados.
Um passo atrás, dois para frente... assim nos ensinaram.
Vamos assimilar carregando cada irmão ao seu altar.
Vamos aprender gritando o que nos dói.
Vamos defender nossas vozes rebeldes que num amanhã próximo, eu tenho certeza, será o canto único de nosso povo.
Não vamos acabar, não vamos morrer, não vamos definhar.
O nosso dia virá justo, crédulo, crescente e sei o quanto mais forte será nosso choro: do tamanho do céu, como aprendi a amar.

sábado, 30 de abril de 2011

Sobre a Alma de um Guerreiro

Seus olhos sempre expressam a alegria e a Fé na Vida,
como um visionário a compartilhar
novas percepções do mundo.
Seu mundo é o de todos,
e nele,
sabe de tantas dificuldades como poucos,
e tem um poder de renascimento,
quase inexplorado,
intrínseco à sua existência.
Sempre soube o seu valor,
na dignidade
e nas ondas sombrias que céus,
sem explicação,
tentam impor-lhe tempestade.
Ora, como afogar aquele que faz
da gota d'água pixe
um oceano de redenção
com seu navio e seus braços
a apontarem caminhos?
É impossível!
Pois ele desbrava com inteligência e sagacidade
o caos que a doença poderia fazer-lhe medo,
e produz produz a Arte
que move paredes e corredores
e faz chorar de admiração
aqueles que percebem
poder voltar a trabalhar pela vida
e não sob o jugo da morte!
Essa gente toda,
com a energia desse raro homem,
volta pra casa em seus aventais brancos,
diferente,
com um Amor que não conheciam,
o Universal,
e o passam para os seus,
talvez sem nem mesmo perceberem.
Então, esse jovem corajoso
sente outra vez a turbulência
de uma natureza disforme em si.
Sua imagem no espelho
move-se antes dele,
algo quer capturá-lo.
Suas pernas tremem involuntariamente,
mas ele prossegue
olhando e procurando
o seu reflexo.
Põe força no olhar
da Alma de Guerreiro
que tem e,
no pensamento,
a concentração e a Fé são hercúleas.
Ele respira profundo
o ar robusto de sal
no meio da intempérie oceânica
e a força de sua expressão
busca a sua imagem
- inteireza do corpo -
que lhe devolve os mesmos gestos,
pois que a efígie enigmática e doente,
das profundezas do coração desse Lutador,
sucumbe ao Ser Inteiro
que volta para a Casa do Amor
sob o signo de seu característico sorriso
a contagiar todos com pureza
e a chorar e vibrar
com a vitória que trouxe,
definitivamente,
a Paz!

(29/4/2011,
para Matheus Cony)